Talvez alguns se surpreendam e pensem “mas que diabos uma coisa tem a ver coma outra?” mas acredito que a maioria já está bem consciente da forte ligação entre as duas obras.
Aproveitando que faltam poucos dias até o retorno de LOST resolvi colocar aqui um post especial que escrevi originalmente para o blog TEORIAS LOST do qual faço parte e serve como um guia para os que não conhecem tão bem a saga dos jedis e também como um memorial para aqueles que já são fãs. Veremos vários paralelos que existem entre as duas trilogias de Star Wars e o universo Lostiniano. É um post pra quem curte a série, admito, mas quem ainda não gosta, pode ser uma oportunidade de conhecer esse fenômeno da TV.
Primeiro gostaria de situar todos no contexto em que SW foi criado.
George Lucas era fascinado por mitologia, histórias bíblicas e contos de Samurai. No anseio de criar algo novo pensou “por que não mesclar isso tudo?”. Logo em seguida pensou “como fazer isso?”.
A solução veio com uma “galáxia muito distante há muito tempo atrás.” Considerando o tamanho do universo e sabendo que este está em constante expansão se tornou absolutamente plausível essa miscelânea cultural, social e filosófica.
A idéia era tão inovadora que foi recusada por vários estúdios antes de ser aceita pela 20th Century Fox. Essa inovação também foi outro problema para o estúdio: os recursos tecnológicos e efeitos especiais da época não eram suficientes pra realizar o que Lucas imaginara pra sua Opera Intergaláctica. Foi então que ele decidiu então contar a história partindo do que ele chamou de “quarto capítulo”.
A trilogia foi um sucesso estrondoso e até hoje repercute gerando rios e rios de dinheiro com merchandising, jogos, DVDs e todo tipo possível de mídia. O “Império” extrapolou os limites das telas de cinema. E é nesse ponto que SW entra em LOST.
J.J. Abrams e Damon Lindelof combinaram de se encontrar para discutir o seriado. J.J. usava uma camisa de Star Wars e a afinidade compatível e evidente se tornou o norte pra muitas das decisões que tomariam posteriormente. [informações do DVD da primeira temporada].
Mas o que exatamente as duas obras tem em comum?
Na verdade a estrutura criada pra LOST é a mesma que George Lucas usou tempos atrás: diversas referências externas.
Pra compor os personagens e a história, Lucas conta que leu mais de 50 livros com o tema “heroísmo”, textos de filósofos e afirmou que recorreu à bíblia várias vezes. Já cansamos de ver em LOST todas essas alusões.
O que faz esses trabalhos únicos é o fato de que tanto SW, quanto Lost - e cito também Tolkien [de Senhor dos Anéis] e até C.S. Lewis [de Crônicas de Nárnia] - criaram Universos Alternativos que sendo ou não fantasiosos são capazes de criar identificação com o público pois falam de temas recorrentes no nosso dia-a-dia de forma alegórica. Star Wars, por exemplo é ambientada em sistemas solares longínquos mas o enredo é profundamente humano e amplamente conectado com o “nosso” mundo real.
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Vamos nos ambientar com a história.
Guerra nas Estrelas parte de um pressuposto baseado na profecia de que um Escolhido surgiria pra trazer equilíbrio. Os seis filmes contam a trajetória desse escolhido mas se utilizando de um recurso muito comum em LOST: os Flashbacks. Começando pelo quarto episódio com o personagem já adulto e sendo o vilão da história fica realmente impossível imaginar que ele deveria ser o responsável por trazer a paz para a galáxia. Benjamim Linus, líder dos Outros, já foi um garoto inocente, mas ao ser chamado por Jacob faz o que é preciso para defender a Ilha acreditando que os conselhos de Jacob são os mais corretos – mesmo que isso leve à Purgação e morte de centenas. Assim também acontece com Anakin que se tornou Darth Vader sob a tutela de Darth Sidius. O Menino Ben se tornou o Manipulador Linus agindo de acordo com os conselhos de Jacob. Ben matou todos da Dharma e Anakin exterminou os Jedis.
O processo de “recrutamento” de Vader aconteceu ainda na infância. Foi levado por Qui-On Ji para ser treinado como um Jedi. Também Locke e Ben foram, ainda crianças, abordados por Alpert.
Anakin não teve pai. Foi concebido por uma forma microscópica de vida chamada Midi-clorian. Uma visível alusão à concepção virginal de Maria ao Cristo. Alusão essa que foi usada também pra se referir ao nascimento de John Locke quando este conversava com sua mãe dando respaldo ao fato de John ser “especial”.
E ser especial é o que diferencia as pessoas em SW.
A quantidade de midi-clorians no sangue possibilita maior ou menor controle da Força [poder maior regente do universo de guerra nas estrelas]. Também vemos em LOST, logo na primeira temporada, Locke “treinando” Walt, ensinando o garoto a usar a faca “de olhos fechados” apenas se concentrando.
Também é através de Locke e Walt que vemos maior intimidade com a Ilha e seus “poderes” assim como os jedis tem ligação com a Força.
Outro tema recorrente em ambos é a paternidade. Conflitos entre filhos e pais, orfandade e descoberta de um pai diferente do que se esperava.
LOST diversas vezes põe em pauta a discussão maniteísta. Há mesmo um Bem e um Mal? Um lado Negro e outro Branco? Na série o jogo de gamão é uma ótima metáfora que separa os dois lados. No filme as vestes dos personagens se diferem em preto e branco pra contrastar essa dualidade. E é interessante pensar que tanto em LOST quanto em SW fica difícil ter certeza de quem são realmente os “good guys”. E também não importa o que já tenha feito de mal sempre há uma chance pra recomeçar. Vader acaba por salvar a todos no último episódio entregando a própria vida [como Locke] e assim trazendo o equilíbrio profetizado outrora.
Por falar em Mal, a tentação pro Lado Negro da Força é vista diversas vezes em LOST. Locke é tentado a ver o que “havia dentro da caixa” e ter poder e conhecimento, por exemplo [pra isso teria que "dar cabo" do papai.
E sendo o mal algo relativo nos 2 casos, o anti-herói, mesquinho e interesseiro, cai como uma luva. Sawyer e Han Solo tem personalidades parecidíssimas.
George Lucas se baseou em grandes conflitos políticos reais [Guerra Fria e Segunda Guerra Mundial] para criar o processo de dissolução da República vigente para Império comandado por Palpatine e Darth Vader . Estudou também ditadores clássicos como Hitler. Não preciso nem dizer o quanto isso se assemelha às disputas de poder na Ilha e as leis invioláveis seguidas pelos Outros.
Falar com mortos não é privilégio de Miles ou Hurley. Em Star Wars diversas vezes os personagens são “visitados” por aqueles que se foram pra receber um conselho ou aviso.
O destino é outra importante semelhança. John é o personagem em Lost que mais acredita nisso.
Yoda diz a Luke que ele só será um Jedi se enfrentar Darth Vader em batalha uma segunda vez [Luke já tinha lutado uma primeira vez e perdeu sua mão]. Luke se incomoda com a ideia de matar seu pai – Locke também não se mostra favorável a ser ele o assassino de Cooper – mas a aparição de Obi-Wan diz à Luke: “Você não pode fugir de seu destino.”
Locke também, mesmo relutante, encara seu destino e faz o que é preciso principalmente quando, sabendo que deveria morrer, gira o timão e sai da Ilha.
Há também referências mais explícitas como Jack pisando no brinquedo de Aaron que era a Millenium Falcom [nave de Han Solo] ou em textos e diálogos dos personagens em LOST. A maioria dos sobreviventes é fã da trilogia. =P
- Sawyer chama Hurley de “Jabba” - monstrengo extremamente gordo de SW.
- o mesmo Sawyer chama Jin algumas vezes de Chewie se referindo ao companheiro de Han Solo que não falava uma palavra a não ser grunhidos. O engraçado é que Solo parecia entender o que Chewbacca falava assim como os losties compreendiam [em parte] a comunicação “diferente” de Jin.
- Também chama Ben de Yoda, considerando que Linus detém muito conhecimento.
- Pra resgatarem Carl, Alex, Kate e Sawyer usam o mesmo truque que Luke, Solo e Chewie utilizam pra salvar a princesa Leia se fingindo de prisioneiros. Ao que James afirma ser “a velha piada do Wookie prisioneiro” [Wookie é a raça do Chewbacca].
- O modo como James Ford mata Anthony Cooper é idêntico ao modo que Leia mata Jabba, the Hutt.
- Hurley, fã mór da trilogia na série ao meu ver [hehe] é o que protagoniza mais momentos envolvendo SW. Não bastasse discutir rapidamente com Dave o fato de terem ou não explodido a Estrela da Morte [arma usada por Darth Vader capaz de explodir um planeta inteiro com um único disparo], e também considerar Jack quase um Jedi com o “papo tranqüilizante” com Shannon [pois os jedis costumavam se utilizar de uma voz mesmerizante pra convencer seus “alvos” daquilo que estavam dizendo] também resolveu escrever ele mesmo “O Império Contra-Ataca”, considerado pela maioria dos fãs [inclusive eu] o melhor filme da saga.
Terminando acredito que a fé dos personagens é a força-motriz das duas histórias. Mesmo quando ela lhe custa caro. [Luke perde a mão acreditando poder derrotar Vader antes do fim de seu treinamento e Boone morre por causa da fé cega de Locke na salvação através da Escotilha]. É a fé em algo que torna o sujeito comum em Herói.
É acreditar que o impossível, seja levitar uma nave ou voltar a andar, só é alcançado por aquele que crê. Nós não podemos “dizer o que eles não podem fazer.”
Espero que os que já conheciam a história tenham gostado das referências e aqueles que não conheciam tenham se interessado por essa obra tão importante para o cinema e diversos outros meios de entretenimento.
2 comentários:
Texto clássico no Teorias!!
Vale a pena ser publicado em vários blogs...
Abraços!
Eu, como fanática por Star Wars e Lost, amei o texto, perfeito!!
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